Sentimentos arrevesados
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Eu não tenho pressa e nem tenho preço
A liberdade vive do avesso.
Não é pedrisco que me põe em tropeço.
Vento que não se preza
Perde a curva e perde a reza
Chuva que não se apruma a semente desarruma
Leva a terra e estraga o chão
Inverno que se irrita cresta a germinação
Primavera doce e atrevida insinua rimas coloridas
E o outono silente e as vezes sisudo
Não confunde o sabor dos frutos
No firmamento as estrelas iluminam segredos
Lua cheia e lua nova, ondas mansas e ondas bravas
O oceano balança, adolescente e sonhador
O verão sempre se orgulha sensual e tentador
Vira o vento e vira a lua nos lençóis do mesmo amor
O passaredo tece os ninhos com gravetos e suor
A vida vive livre entre peixes e sabiás
Meu coração só não se ajeita entre cismas e desavenças
Num olhar intuição tiro versos para dançar…
Se a luz é uma equação o segredo é desvendar
Se a fé é condição
Que tal então raciocinar
Eu nasci bem nesse chão
Mas, não sou semente para ficar
Isso a muito já entendi e nem tenho que explicar
Vida é vida aqui e além de acolá
Vivo aqui e vivo lá quando a mente mediuniza
Tiro luz e tiro senso já debaixo de outras cinzas
Inspiração me deixa tenso, mas não perco verso não
Afinidade se tatua no valor da emoção
Amizade é água pura a saciar igual canção
E na mesma partitura faz acorde o coração
Vento vira uma saudade no choro do salgueiro
Meia lua, brilho cadente, nuvem se enciúma
E o poeta enxerga estrelas na solidão das suas ruas
E respinga luz nos seus fonemas
Faz dos dilemas poesias e na tristeza dá um nó
Vive junto e as vezes só
Mas, só anda acompanhado de uns versos bem trocados
E amores bem vividos em seus sonhos desenhados
Por pensamentos e palavras, as vezes doces, as vezes brasa
Liberdade é uma casa de janelas escancaradas
E o amor, flores espreguiçadas no altar da vida
E o poeta só recolhe os versos que Deus espalha.
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Ademário da Silva
28 de outubro de 2015.
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