Exercício mediúnico…
Crônica ligeira…
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Um domingo de abril com as cores esmaecidas do outono e a saudade brincando de amarelinha nos traços ensombrados do passado…
Uma canção assoma a lembrança como herança da memória e Françoise Hardy em La question, com seu timbre vocal macio, melodioso e francesamente gostoso, agitam-me os sensores da intuição… E meu coração pede silêncio ao exterior e se recolhe aos umbrais de si mesmo, sonhando acordado e com os pés no passado, que seria tão bom se tudo fosse presente, se não houvera saudades, vontades insatisfeitas, cicatrizes refeitas na busca de um sentimento infindo…
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Assim como se o amor se libertasse do corpo e vestisse-me a alma com um designer de luz e paz… E penso, repenso e medito sobre as nuances do amor…
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E se ele não fosse só um rosto bonito
Um sorriso sincero
Uma carícia certeira
Dessas que amolecem a alma
E deixam o coração definido
Virado pro mesmo sentido…
Dessas que rasgam os horizontes e derrubam fronteiras
Carícias inteiras que apagam o ego
Egoísmo que ainda me apego na ânsia do equilíbrio
Ah! Se eu pudesse ditar as rimas
E fazer dos versos oração de arrependimento
Tormento do meu próprio orgulho
Talvez por isso é que piso ainda sobre pedregulhos
Ah! Essas carícias da alma que desvincula a vaidade e a carência das verdadeiras emoções…
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Envolve-me uma sensação de não estar, como se duais sentidos em conflito me mostrassem coisas, paisagens e pessoas, numa dimensão que a matéria não registra, nem dimensiona… O inconsciente me agita, mas não me permite abordagem plena sobre o tempo da saudade
Uma garoa intermitente esfriando o clima e a rima que acende o poeta, indiscreta, mas, silente, num canto ocioso, como num gozo surdo e egoísta, mas altruísta qual semente de novas poesias, sorria por dentro de si mesma, sonhando quaresmas nas paisagens interiores…
A temperatura despenca dos braços do verão e pede asilo no primeiro coração. Um coração atento, desperto, embora indeciso ainda em suas provas e expiações, veste a temperatura em seus vinhos e seus livros… Suspiros e inspirações pulsam num movimento lento, mas lúcido porquanto a saudade como a nobreza exige a memória…
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Vinhos enquanto versos rabiscados á pressa
Pressa como rimas espalhadas pelo chão da imortalidade dessas lembranças
Suspiros como se fossem gritos atrofiados pela distância
Inspirações quais hipotenusas de valores trocados…
E o poeta sorrindo em silêncio pela concordância dos verbos irregulares
Que conjugam o passado das relações interrompidas…
E a melodia dançando em ondas sobre as pautas do compasso
Recria abraços e beijos, risos e gargalhadas nas calçadas do tempo
De amores, amigos e afetos nos lençóis da igualdade…
E com seu tempo restrito aos acordes desenha fisionomias amigas e amadas
Nos contratempos da canção…
E a saudade, poema do tempo, pede-me um momento de reflexão
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A afinidade é o pêndulo das relações
O ponteiro das horas empurra o tempo da renovação
Aquela haste de segundos que gira em movimento acelerado
Consome cada indecisão, cada vacilo e ociosidade e como a dor não deixa lembranças…
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Um rastro de imortalidade se desenha pós os meus passos, no compasso das lembranças
Sinto um silêncio mediúnico, pensamentos quietos num canto fluídico
Nem os provoco, se quer os evoco, a gratidão de boca fechada é onda á me aquecer o coração…
Mas, tenho que coordenar os pensamentos, esse equipamento irrequieto, que do teto da imortalidade não se cansa…
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O trabalho é o desenho vivo do esforço, parece-me não haver influências… Reticências entre um verbo e um substantivo…
Mas, sei que elas existem, apenas me respeitam, não criticam, mas corrigem-me em meio aos intervalos…
É mesmo uma sala de aula, onde o mestre não fala, pensa e desenha imagens… Em seus eflúvios mentais…
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Meu pensamento curioso e ás vezes desabrido e até destemido pela confiança que transmitem, vasculha o imponderável na lousa do tempo e soletra as lições que enxerga nos olhos de quem ensina…
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Seu nome, nem sei que valor me agrega, não me preocupa, busco na mediúnica lupa enxergar o que preciso…
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É uma lição de pensamentos expostos, onde cada palavra tem que ser viva e acesa, pois tem que clarear as consciências desavisadas… E a minha é uma entre tantas…
Presto atenção, faço silêncio dentro de mim, ouço o tempo e a consciência de quem me ensina e tudo é tão presente, mas sei que há uma distância dimensional, moral e espiritual… O espírito livre e eu preso na masmorra da carne. O discernimento me faz transpirar e molhar pálpebras e têmporas…
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O tempo que não é o ontem costura o antes com o agora com linhas decisivas e determinadas, mostrando-me o atelier das realizações infindas…
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A morte não finaliza, retalha a indumentária física livrando a alma de cangalha pesada e incômoda, permitindo á libélula o vôo da liberdade adquirida, é a vida que continua á despeito dos medos humanos, em outros planos no espaço sideral…
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Os iguais se reúnem, ensinou o mestre Kardec, o médium no mínimo pertence ao ambiente escolar…
E lá na escola proteção é igual á atenção e compromisso
Pesquisa se identifica com a constatação de valores interiores…
Exercício é caridade em movimento
Freqüência é pontualidade sem esmorecimento
Preferências são corações batendo no mesmo ritmo
E o certificado é a dor do próximo extinta e a sua compreensão satisfeita…
Assim é que é…
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Ademário da Silva =+= 03/abril/2011
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